ARIANO – UMA SAGA POÉTICA EM TRÊS ATOS

Concepção e Homenagem

Arretado que só ele, o espetáculo "Ariano" nasceu em 2007 das entranhas da CiaTeatro Epigenia, como quem lança mão duma toada em homenagem a um mestre: Ariano Suassuna, cabra paraibano dos bons, senhor de palavra encantada. Com texto parido por Gustavo Paso e Astier Basílio, a peça não se contenta em contar a história — ela dança, sonha e ressoa a alma de Suassuna numa travessia simbólica, uma verdadeira romaria de poesia encenada.

Estreou no CCBB do Rio de Janeiro e, feito andante nordestino, rodou outras paragens do Brasil.

Estrutura Dramática Inspirada na Divina Comédia
Como um aboio que ecoa nos sertões do imaginário, a dramaturgia se espelha na Divina Comédia de Dante Alighieri, e é repartida em três atos, ou melhor, três reinos da existência:
 

• Sol (Inferno): onde o protagonista se vê na lida com seus próprios infernos, dores e destemperos.

• Sangue (Purgatório): quando o coração se debate entre o fardo da memória e a esperança da redenção.

• Sonho (Paraíso): ponto alto da travessia, onde a alma encontra alívio e retorno ao berço da criação.É uma toada de profundidade rara, que cava os sentidos com enxada de filosofia e lampião de beleza.

Enredo e Personagens
Na vereda da encenação, um jovem Ariano — vivido por Gustavo Falcão — busca o mítico "Reino de Acauã", terra de lembrança e origem. Pelo caminho, tropeça com os próprios fantasmas e encantos: João Grilo e Chicó, Clarabela, Nevinha, Quaderna e Margarida, tudo personagem que escapuliu de suas páginas pra tomar corpo e voz no palco. Também entram figuras de peso, como Maria da Guia e Antônio Conselheiro, pra mostrar que o sertão é vasto, e nele cabem tanto o delírio quanto a história.

Elementos Cênicos e Musicais
É festa, é rito, é armorial! Os atores, dezesseis ao todo, não são apenas intérpretes — são bardos, dançadores, tocadores. Rabeca, pífano, acordeom e zabumba dão conta da alma sonora do Nordeste, e cada cena pulsa com a força desse chão. A encenação bebe do Movimento Armorial e brada alto: a cultura popular tem requinte, tem densidade, tem nobreza.

Recepção e Impacto
Foi um estouro de poesia! A peça rodou o país com o pé firme no chão batido e os olhos nas estrelas. Passou por Recife, João Pessoa, Brasília, BH... e voltou pra Taperoá, como quem presta continência ao mestre no terreiro de casa. Ganhou o respeito do povo e da crítica, e até a Petrobras botou fé e patrocinou a turnê. "Ariano" não é só um espetáculo — é um ato de fé no poder transformador do teatro.

E como diria a saudosa Madeira do Rosarinho, quando botava seu bloco na rua:
"Se é pra dizer a verdade, que seja com poesia!"