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17 nominations for the Cenym National Theater Award
Winner in 6 categories:
Best Show, Direction, Art Direction,
Scene Photography, Adapted Text
Já assisti a várias adaptações deste conto para o TEATRO, todavia jamais assisti a algo tão arrojado, perfeito e genial, como a versão, encenada pela Companhia de Teatro Epigenia.
Gilberto Bartholo
Crítico de teatro
"(...) magnífica direção de GUSTAVO PASO, um dos melhores encenadores do TEATRO BRASILEIRO."
Gilberto Bartholo
Crítico de teatro
The first version of THE ALIENIST premiered in 2022 at the Grande Sala do Teatro Cidade das Artes in Rio de Janeiro, being one of the greatest public and critical successes of 2022, with 17 nominations for the CENYM National Award, where it was WINNER in the categories: Best Show, Best Director, Best Theatrical Adaptation, Best Photography, Best Art Direction, Best Theater Company of 2022.
For the first time in Greater São Paulo.
After its second season in Rio, the show arrives in Greater São Paulo completely renewed, with new scenes, songs, and cast that are part of the annual update carried out by writer and director Gustavo Paso.
CiaTeatro EPIGENIA held an audition with 112 actors and actresses to form the new show, which took 45 days to be restructured and premiered at the Teatro Municipal de Santo André-SP on June 6, 2024.
History
“O ALIENISTA” UM TEATRO ATEMPORAL
Crítico Gilberto Bartholo
Depois de bem mais de dois anos, quebrei meu jejum, quanto à CIA. TEATRO EPIGENIA, no dia 12 de março/2022, na Grande Sala da Cidade das Artes, Rio de Janeiro, quando, com muita ansiedade e curiosidade, fui assistir à montagem de “O ALIENISTA”, um genial trabalho de adaptação, para o TEATRO, do conto de MACHADO DE ASSIS, para os quais, conto e seu autor, faltam-me adjetivos à sua altura. Nada do meu repertório léxico se aplica a ambos, pelo elevadíssimo alto grau de genialidade dos dois. E gostei tanto, que revi o espetáculo na última 6ª feira, dia 18.
A peça é apresentada como uma “Fábula Patafísica sobre o Cientificismo Oxidosistêmico”. A “Patafísica”, para quem não sabe – e ninguém é obrigado a saber -, “é a ciência das soluções imaginárias. Segundo seus teóricos, opera a desconstrução do real e a sua reconstrução no absurdo. Foi criada pelo dramaturgo e escritor francês Alfred Jarry (1873-1907) (o famoso autor de um clássico do TEATRO, “Ubu Rei”)...”.
Joaquim Maria MACHADO DE ASSIS, sobre TUDO a ele relacionado, poderíamos chegar a uma tese, de muitas e muitas páginas, de tanto que admiro aquele que considero O MAIOR ESCRITOR EM LÍNGUA PORTUGUESA, DE TODOS OS TEMPOS, a despeito de tantos grandes outros que o antecederam ou vieram depois dele. Ademais, sepultando o cabotinismo, não numa cova rasa, mas em outra, muito profunda, considero-me um considerável conhecedor do autor e sua obra, fruto de uma paixão iniciada numa tenra idade, depois que aprendi não “a ler”, mas “a como se deve ler”, sou machadiano da cabeça aos pés.
A peça aqui analisada, a qual ganhou incomensuráveis contornos de contemporaneidade, com a genial adaptação dramatúrgica, feita por GUSTAVO PASO, que também é o diretor da peça, e CELSO TADEI, consagrado roteirista. A publicação de “O ALIENISTA” data de 1882. É “vendido” como um conto, entretanto, considerando a sua estrutura literária, eu e tantos outros de seus estudiosos o consideramos uma novela, em 13 curtos capítulos, gênero literário que nada tem a ver com as “novelas de TV”.
O espetáculo é classificado, por mim, como uma OBRA-PRIMA, sempre considerando que não podemos, em momento algum, nos esquecer de que, como toda a obra de MACHADO, pelo tempo de sua morte, já é de “domínio público”, e a proposta da peça é uma livre adaptação. Foi mantido o enredo, entretanto PASO e TADEI puseram em prática toda a liberdade a que têm direito e seus dons de criatividade e bom gosto, “um molho muito gostoso e especial”.
Já assisti a várias adaptações deste conto para o TEATRO, todavia jamais assisti a algo tão arrojado, perfeito e genial, como a versão, encenada pela Companhia de Teatro EPIGENIA, no seu vigésimo ano de vida, já caminhando para o 21º, durante os quais nos deixou grandes legados, como as montagens, não seguindo a ordem cronológica, de, por exemplo, “Em Nome do Jogo”, “Casa Caramujo”, “Olenna”, “Hollywood”, “Festa de Aniversário”, “Race” e “O Preço”.
A peça, que não é um musical, propriamente dito, mas que contém algumas canções, as quais, também, são texto, é, generosamente, “recheada” de um humor reflexivo e cáustico, ora amargo, ora divertido, seguindo, bem de perto, uma das grandes características do autor do conto, a ironia, que seus maiores estudiosos consideram a “arma mais corrosiva da crítica machadiana”, porém de uma forma e com uma linguagem bem mais atuais e acessíveis aos ouvidos hodiernos, muitas vezes, ainda, o que é muito bom, repetindo as palavras do MESTRE.
Na intenção de se valer de uma grande obra literária, um clássico da Literatura Brasileira, GUSTAVO PASO e CELSO TADEI, para deixar bem clara suas posições acerca da situação política, econômica, moral e social por que passa o Brasil do final da segunda década e início da terceira, do terceiro milênio – E oxalá acabe logo! -, pegaram uma tela gigantesca e nela pintaram “o poder, em todas as suas formas, o jogo da corrupção política, protocolos de saúde estapafúrdios, o absurdo da decadência humana, a falta de empatia, o massacre aos direitos humanos”, que nos são familiares, nos dias de hoje, “apesar de parecerem distópicas”, das quais precisamos, e temos que, nos livrar.
Se continuasse a falar do texto, ainda poderia gastar muitas linhas. Então, passarei a dissertar um pouco acerca da magnífica direção de GUSTAVO PASO, um dos melhores encenadores do TEATRO BRASILEIRO.
Apaixonado pelo movimento expressionista alemão da década de 1920, um trampolim para o nosso Modernismo, de 1922, PASO optou por uma montagem que se aproximasse, em vários sentidos, das características daquele movimento. Quanto a isso, com relação à montagem, relaciono o ritmo da direção; a iluminação, meio “noir”; o cenário e a maquiagem, estes criados pelo próprio GUSTAVO, com predominância, em sua quase totalidade, das cores preto, branco e cinza; o figurino; e assim por diante. Cada um desses elementos merecerá seu momento de comentário. GUSTAVO se encharcou, de tanto que bebeu naquele movimento, para dar o esplêndido formato ao seu espetáculo.
O Expressionismo foi um movimento que abrangeu vários setores da ARTE, como a Literatura, a Pintura e o Cinema, por exemplo, e se caracterizava por uma “rejeição das convenções ocidentais, mostrando a realidade de maneira extremamente distorcida, para causar impacto emocional”, exatamente o que pretende GUSTAVO PASO, na direção de “O ALIENISTA”.
Tanto no movimento expressionista como em “O ALIENISTA”, versão teatral de GUSTAVO PASO, encontramos “o questionamento dos padrões de beleza vigentes; o uso de formas abstratas; a retratação de sentimentos, tais como angústia, medo e solidão; a valorização da subjetividade (voltada para o interior e o isolamento do indivíduo); e a deformação da natureza e dos objetos, para expressar sentimentos”. Sombras... Muitas sombras... E a presença do claro-escuro. “As histórias e narrativas, geralmente, tratavam de loucura, insanidade, traição e outros temas existenciais, trazidos à tona pelas experiências traumáticas da Primeira Guerra Mundial.”.
As ideias geniais da adaptação começaram no papel, a quatro mãos, mas a concepção das cenas, as ideias de como realizá-las, as marcações, o diálogo e a troca com os artistas criadores, tudo isso fica a cargo de GUSTAVO PASO, que assina a direção do espetáculo, da forma mais merecedora de elogios.
No cenário, são utilizadas rampas, plataformas, uma mesa e cadeiras de ferro, com rodinhas, e outros objetos, para criar um ambiente de mistério e um de um certo ar de filme de terror. Cenário projetado em função da direção e vice-versa, penso eu, a partir das necessidades e ideias do diretor/cenógrafo.
São ótimos e muito criativos os figurinos, coube a um dos nossos grandes mestres da iluminação, PAULO CESAR MEDEIROS, criar um desenho de luz, dentro da concepção do diretor. Enriquecem bastante a montagem a Trilha Original e a Direção Musical, de ANDRÉ POYART.
Quase sempre, deixo, para o final da análise, o trabalho do elenco. GUSTAVO PASO foi muito feliz, ao reunir tantos talentos da CT EPIGENIA e outros atores: um convidado e os demais selecionados em audição. RÔMULO ESTRELA, que faz parte da CIA., está perfeito como o DR. SIMÃO BACAMARTE, médico psiquiatra e o protagonista da história.
LUCIANA FÁVERO, uma das fundadoras da CIA., é DONA EVARISTA, a esposa de SIMÃO BACAMARTE, fazendo, mais uma vez, como em espetáculos anteriores, da EPIGENIA. LUCIANA é uma excelente atriz e seu maior mérito, a meu juízo, consiste na versatilidade. A cada espetáculo novo, de que ela faz parte, na CIA., um maior desafio, uma personagem que lhe consome muita energia e dedicação, além do talento, que, nela, sobram.

